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quarta-feira, fevereiro 27, 2008

fogo-de-artifício 


Fireworks. Animal Collective.

Nós, seres humanos, gostamos muito de coisas que brilham e fazem barulho. Nesse aspecto, somos como os outros animaizinhos. Menos assustadiços, talvez. Para mim, é sempre uma emoção ver fogo-de-artifício. Fico especado, com ar de parvo, a olhar para cima, numa grande felicidade.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

actor (ler em inglês) 

Ontem estive a ver os óscares, foi um bocado chato, os gajos da TVI são umas bestas, donde que da sua conversa saiu esta refelexão.

A importância que se dá à versatilidade de um actor é estúpida. Se ela bastasse ou fosse o indicador principal para aferir da qualidade de um actor, teriamos em conta, sei lá, um Paul Muni, o homem das mil-caras, que com a ajuda de muita maquilhagem encarnava figuras diversas da História, por exemplo Louis Pasteur e Émile Zola, como um dos maiores actores de aempre. Faz lembrar o Rojas, que jogou há uns anos no Bnefica, que era um polivalente (equivalente futebolístico para versátil) porque jogava mal em qualquer posição. A versatilidade na arte é como a originalidade, sozinha não vale um caralho, não valida nenhuma obra. O John Ford andou a filmar a mesma história durante anos, e nem a originalidade nem a versatilidade eram para ali chamadas, e é mesmo assim um dos grandes. O Spike Jonze pode ser original, mas é mau. O Ridley Scott pode ser versátil, mas não é grande coisa. É assim com os actores, o Cary Grant, o maior actor de sempre, não era nada versátil, como não o eram o John Wayne, o James Stewart, o Gary Cooper, e como não o são o Al Pacino ou o Jack Nicholson. Um bom actor cria uma persona, que representa na tela qualquer que seja o papel (até pode representá-la no seu dia-de-dia), mas não se representa a si mesmo, ou representa-se a si mesmo na medida em que assume a sua persona. Não imagino ninguém a conseguir representar-se a si mesmo num biopic sobre a sua vida, nem mesmo quem diz que o Michael Cera é um mau actor por que faz sempre dele mesmo e que eles conseguiam fazer melhor ou tão bem (lá andei outra vez a ler os fóruns do Imdb), porque o Michael Cera deve ser um dos melhores actores que anda para aí, com o seu underacting fabuloso. Aqui tocamos noutro erro comum, confundir uma grande representação com overacting, e digo isto consciente do quanto o overacting pode ser divertido (os últimos vintes anos da carreira do Al Pacino são paradigmáticos). Ser bom actor não é fazer muita coisa, nem muita coisa diferente, é outra coisa qualquer, uma coisa indefinível. É como o João Lobo Antunes dizia da inteligência, não sabia bem definir o que era, mas quando não a encontrava em alguém, sentia falta dela.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

strugglin' 

Estive a ler agora as críticas da Amazon para o Maxinquaye do Tricky, o que não é uma boa ideia em si - ler críticas na Amazon, isto é -, antes pelo contrário, contudo é uma coisa que me dá um prazer um tudo-nada doentio, principalmente ao ler críticas negativas (quanto mais mal disserem, melhor) a álbuns de que eu gosto muito. Também costumo ir aos fóruns do Imdb com um intuito parecido. Bom, nada disto é muito saudável, mas adiante. Ia eu escrevendo que estive agora a ler umas críticas ao Maxinquaye do Tricky - uma das grandes obras de arte do século passado - na Amazon. O álbum até está bem cotado - não foi isso que me deixou numa irritação suficiente para vir para aqui escrever isto -, o problema é que toda a gente fala do dito cujo como fosse um disco de new age, óptimo para relaxar ou, na vertente new-new age, fumar uns charros, ou ainda como uma espécie de lubifricante sexual. O que está tudo muito bem, só me pergunto uma coisa: alguém ouviu a merda do CD? A superficialiadade tem pontos fortes a seu favor, não o nego, até alguma beleza, mas repetir acriticamente umas idiotices avulsas lidas na Wikipédia ou no caralho que os foda não é a melhor ideia do mundo, talvez seja ainda pior do que ler críticas na Amazon por divertimento.

Comecemos pelo óbvio, o título da coisa: Maxinquaye, ou seja, Maxine Quaye, o nome da mãe do Tricky - o que faz de Finley Quaye tio do Tricky, ou não, que eu nunca percebi essa história -, que se suicidou deixando o filho entregue sabe-se lá a que amarguras. Tenho a certeza que o nome da nossa mãe que se suicidou é um título adequadíssimo a um álbum propício ao relaxamento e a outros prazeres, porém por momentos vou-me afastar desse raciocínio avassalador. Continuemos pelo óbvio: a música. Aquela merda é quase irrespirável, e não estou a aludir à quantidade absurda de charros que o Tricky fumava para viver, é claustrofóbica, doente, vinda de uma mente que está a um passo da insanidade e que, para mais, tem completa consciência disso. É sensual? É, só como a demência o pode ser. O Tricky não canta, nem rappa, como fazia nos Massive Attack, sussurra, mas não são bem doçuras ou, se são, apenas tentam aquietar os seus demónios. Existe o contra-ponto, a voz da Martina, ex-namorada - já na altura de gravação do álbum - do Tricky e mãe do seu filho, quente, soberba, mas não será ela mais um demónio, uma hiper-consciência da maldição subjacente a tudo? Ainda no óbvio: as letras. Dizer a meio de uma canção "I fuck in the ass, just for a laugh" até pode ser considerado sexy, menos quando vem seguido de "With the quick speed, I'll make your nose bleed". Difícil de conciliar com o relaxamento é ouvir frases do tipo "Hell is round the corner where I shelter" ou "My brain thinks bomb-like". Finalizemos pelo óbvio: a canção Strugglin', a minha preferida, seis minutos de tensão, de martírio, de luta pela sanidade mental, pela sobrevivência, seis minutos insuportáveis, horríveis, sem esperança. O ritmo da canção é o som de uma arma a ser engatilhada. Quando acaba é como se saíssemos de um pesadelo. Mas para Tricky a canção nunca acaba. O pesadelo nunca acaba. Ele é aquela canção, aquelas palavras, aquela arma.

Dalguma forma, a canção acabou, hoje em dia, Tricky é um artista comparavelmente medíocre, ao que julgo, não tenho tido o vagar para investigar, e muito disso se deve ao facto de Tricky se ter curado, de viver mais bem consigo mesmo. Ainda bem para ele, pior para nós.

sábado, fevereiro 09, 2008

ler 

Ler é uma actividade inútil, a nossa memória não abarca um livro inteiro por muito tempo, por tempo nenhum, possivelmente, e passado uma semana, um mês, que ideia é que temos de um livro? Uma muito vaga, como se alguém nos tivesse contado a história e algumas das tiradas mais interessantes. Podemos parafrasear (mal) uma passagem, sabemos mais ou menos que sensação nos deixou, mas pouco mais do que isso. Ao contrário de um filme ou de um disco aos quais rapidamente e sem grande esforço podemos voltar, o livro requer um maior investimento (odeio esta palavra) para o revisitar. Ler pela segunda vez será como a primeira e a terceira não se diferenciará muito nem da segunda nem da primeira, portanto ler é um acto inútil, cujos resquícios se desvanecem com copos e mudanidades a mais. Não é vida, é uma suspensão da vida, e no fundo leva a quê? Pode parecer filisteu da minha parte, mas não valerá mais a pena ler apenas a badana ou a contra-capa ou pedir que alguém nos faça um resumo e seguir caminho. Daqui a uns anos que diferença fará?

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